Histórias de homens, para homens. Por que as narrativas masculinas ainda dominam a premiação.
Na semana passada tivemos o anúncio dos indicados ao Oscar de 2020. Entre estes, muitos esperados, algumas surpresas e também indicações esnobadas pela academia. No geral, temos a consagração de histórias masculinas, brancas e que não discutem questões relativas às minorias (salvo Coringa, que, como já contamos aqui, possui uma narrativa voltada à luta de classes e aos distúrbios mentais), enquanto enredos liderados por mulheres e pessoas não-brancas foram esnobados nas categorias principais.
Histórias de homens para homens
Na história, apenas cinco mulheres foram indicadas para melhor direção, e há dez anos a primeira mulher levou o prêmio (Kathryn Bigelow, com “Guerra ao Terror”). De lá para cá, apenas mais uma foi indicada na categoria (Greta Gerwig, com “Lady Bird”). Contudo, não é apenas na direção que há uma tendência em premiar narrativas que não envolvem mulheres: desde 2010, apenas um ganhador de melhor filme tinha uma protagonista feminina (“A Forma da Água”, de Guillermo Del Toro, estrelado por Sally Hawkins); até mesmo o filme vencedor de Kathryn Bigelow se passa em um universo masculino. Neste ano, há o retorno de antigos e tradicionais nomes da Academia, mas nada de diferente: todos são homens, e, salvo o diretor Bong Joon Ho, de “Parasita”, são todos brancos.
Reflexo do júri
Após a campanha #oscarssowhite de 2016 foram incluídos dois mil novos julgadores de diferentes gêneros e etnias. Apesar disso, a porcentagem de mulheres entre os avaliadores é de 28%, e os eleitores negros, asiáticos e de minorias étnicas mal chega a 13%. A quantidade de histórias de homens brancos para homens brancos também pode ser vista no olhar ao passado escolhido para a premiação: 1917 (Sam Mendes), O Irlandês (Martin Scorsese) e Era Uma Vez… Em Hollywood (Quentin Tarantino) não são filmes de narrativa contemporânea, e ainda trazem temas masculinos cercados de violências e conflitos. É como se, para que uma narrativa feminina seja considerada, esta deve se afastar dos conceitos do “feminino” e se aproximar de uma masculinidade aceita (o caso de “Guerra ao Terror”).
Novidade brasileira
O alívio vem de uma outra categoria, a de melhor documentário, que possui a maior diversidade de etnias e gêneros. Nesta categoria, inclusive, está Petra Costa com seu “Democracia em Vertigem”, primeira latino-americana indicada para um prêmio de direção. O documentário também é o primeiro totalmente brasileiro do gênero a ser indicado para a categoria: até então, apenas coproduções com outros países haviam sido nomeadas, como “O Sal da Terra”, de 2015.
A premiação acontece no dia 09 de fevereiro de 2020, e é transmitida ao vivo. Confira todos os indicados.
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