No mês da consciência negra, a Onze Trinta faz uma breve análise sobre diversidade no meio audiovisual brasileiro.
Mais de cinquenta por cento da população brasileira é composta por pessoas que se autodeclaram negras. Contudo, a representação destas pessoas em áreas da sociedade é muito menor, e o audiovisual é uma dessas áreas. Os filmes brasileiros de 2016, os negros representaram 2,1% dos diretores, 2,1% dos roteiristas e 13,3% do elenco destes filmes. Os dados são da mais recente pesquisa de Diversidade de Gênero e Raça nos Lançamentos Brasileiros de 2016 da Ancine, que pode ser conferida integralmente aqui.
Entre outros dados da mesma pesquisa, nada que surpreenda: a categoria é dominada por homens brancos, que compõem 75,4% dos diretores, 59,9% dos roteiristas e maioria absoluta também nos elencos. Inclusive, 42,3% das produções de 2016 analisadas não tinham uma pessoa negra no elenco, homem ou mulher. A quantidade de pessoas negras aumenta – muito pouco – se a obra for incentivada com recursos públicos federais: de 5% para 8% do elenco.
Diretores e roteiristas negros garantem maior diversidade
Ainda de acordo com a pesquisa, quando o diretor de um filme é negro, as chances de o roteirista também ser aumentam em 43,1%. Este número é ainda maior para o elenco: as chances de haver um ator ou atriz negro no elenco de um diretor negro são 65,8% maiores em relação aos diretores de outras etnias. A relação também aumenta no caso de roteiristas negros, em 52,5%.
A mulher negra no audiovisual brasileiro
Estes números da Ancine são ainda mais preocupantes quando o recorte é também de gênero: em 2016, nenhuma mulher negra dirigiu, roteirizou ou foi responsável pela produção executiva de longas comerciais. É importante ressaltar que o estudo mostra apenas os filmes realizados e distribuídos no circuito comercial, dominado por homens brancos. Homens negros vêm produzindo longas metragens desde os anos 1970, mas continuam sendo negligenciados e silenciados em suas histórias. As mulheres negras mais ainda. Isso pode ser explicado pelo racismo enraizado na sociedade brasileira que, junto à desigualdade de gênero, faz com que mulheres sejam preteridas. Há também um outro fator social: homens e, principalmente mulheres negras raramente conseguem atingir as formações técnicas demandadas pela área profissional.
A APAN e as ações afirmativas
Existe sim, contudo, uma quantidade grande de profissionais negros dentro do audiovisual. A Associação dos Profissionais do Audiovisual Negro (APAN) faz um levantamento dessas pessoas, e participa ativamente de questões sociais, raciais e feministas, e nas pautas econômicas e históricas com o intuito de enaltecer e documentar o trabalho de atores, atrizes, cineastas e demais profissionais. É necessário, portanto, observar quem são as pessoas que fazem a curadoria de festivais e nas distribuidoras, se a diversidade está nesses lugares. Atualmente, alguns grupos fazem a ponte entre o espectador e os produtores desse cinema de diversidade, e ano passado alguns editais específicos foram lançados para o incentivo de projetos vindos de pessoas fora da cadeia comercial tradicional. Contudo, há um grande caminho a ser trilhado, principalmente a visão das pessoas negras e suas posições na sociedade brasileira.
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