Capacitismo é a crença social de que o indivíduo com deficiência é incompleto, diferente e menos apto para executar funções do dia-a-dia e até mesmo gerir a própria vida. O capacitismo segue a eugenia, e a ideia que apenas um corpo perfeito e idealizado pode conviver em sociedades e lidar com suas funções. Isso existe em várias áreas, e pessoas com deficiência enfrentam essa dificuldade todos os dias. Infelizmente, o capacitismo está presente inclusive no audiovisual.
Relação com o corpo
Para o filósofo francês Maurice Merleau-Ponty, o corpo é apenas conhecido durante a vivência, e o corpo humano não pode ser visto como um corpo qualquer. Ainda dentro desse conceito, a pesquisadora Ana Zélia Belo discorre em sua tese de doutorado sobre como nossos corpos são a nossa imersão no mundo e perceber este mundo com uma perspectiva existencial.
Inclusão
Falar em inclusão é colocar em pauta tudo o que é marginalizado, ou seja, parte da população ou costumes que estão à margem da sociedade e/ou são feitos invisíveis por questões estruturais. Lutar pela inclusão é um ato de equidade que estamos ainda longe de alcançar, principalmente no quesito representatividade. No capacitismo há, além dos problemas já mencionados, a essência de apagar essas pessoas ou representá-las dentro de estereótipos (que são quase sempre preconceituosos).
Cinema e corpo
A relação entre corpo e cinema existe desde o início da sétima arte. A relação com os corpos fora do padrão também. No entanto, o capacitismo sempre fez parte dessa relação: enquanto as pessoas com corpos padronizados e aceitos socialmente eram vistas como mocinhas, mocinhos ou vilões e vilãs charmosos e sedutores, as pessoas com algum tipo de deficiência eram os desajustados, satirizados, ou até mesmo os “monstros” das histórias.
Representação
E mesmo que tenha acontecido uma mudança significativa na representação destas pessoas, ainda no fim do século XX as pessoas com deficiência eram os vilões descontrolados, malucos e anormais, sempre atrás de uma vingança com quem causou sua deficiência. Em um outro momento, as pessoas com deficiência foram tratadas como heróis, o que a pesquisadora Dorothy Lane da Florida State University (e você pode ler a tese dela aqui, em inglês) classifica como “Inspirational Porn”. Tudo o que esta pessoa faz é visto como uma inspiração e uma constante lição de vida e, normalmente, esses personagens só existem para aquecer os corações e abrir as mentes daqueles sem deficiência. Hoje temos uma representação que muito se enquadra no gênero “Drama”, que explora as questões pessoais e sentimentais dos personagens (mesmo que dentro deste gênero ainda ocorram representações que podem ser consideradas inspiracionais e heróicas). E aqui nós nem falamos sobre uma clara representação assexuada destas pessoas.
Números demográficos
Segundo dados da OMS, hoje cerca de 1 bilhão de pessoas no mundo possuem algum tipo de deficiência - ou seja, 1/7 da população mundial e, só no Brasil, a quantidade é de aproximadamente 24% das pessoas (sim, quase um quarto da população). Mas, se pararmos para pensar, quantos personagens e representações vimos todos os dias nos meios de comunicação do país, além daqueles que aparecem nos telejornais para reclamar da falta de acessibilidade? É, a lista não é longa, não é mesmo? O capacitismo também se apresenta desta maneira, quando não há personagens com deficiência no núcleo das novelas e dos seriados, nos comerciais e até mesmo na apresentação de programas e telejornais.
Ainda temos muito o que caminhar para tornar o audiovisual (e o mundo) não só mais acessível, como também mais inclusivo. E isto só é possível através da representatividade. Mesmo que tenhamos presenciado uma mudança significativa na participação destas pessoas, há muito o que fazer, até mesmo em nosso comportamento e aprendizado social sobre pessoas com deficiência. Para entendermos melhor a visão de uma pessoa com deficiência e como estas são pessoas comuns, deixamos um TED Talk da jornalista e comediante Stella Young (com legendas em português):
Aqui na Onze Trinta somos a favor da representação e da inclusão de pessoas com deficiência no nosso meio, o audiovisual. Seu produto ou empresa é inclusivo? Já pensou na representação com pessoas com deficiência em fotos e vídeos? Podemos te ajudar com criação de conteúdo! Saiba o que a Onze Trinta pode fazer.
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