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Estereótipos Femininos que Já Cansamos de Ver

A necessidade de mais mulheres nas decisões tomadas no audiovisual em relação a roteiro e construção de personagens fica nítida quando temos sempre os mesmos tipos de personagens femininas.


Estereótipo é um padrão construído de forma impessoal a partir da repetição. Quando usado demais, vira um clichê. Quando a crítica Anita Sarkeesian percebeu a repetição de padrões femininos no audiovisual, decidiu analisá-los com mais profundidade. Ao todo, a crítica notou cinco estereótipos de personagens femininos que não só tornam essas mulheres rasas, como também não fazem jus à pluralidade de mulheres.


O Princípio Smurfette

Durante muito tempo houve uma falta de personagens femininas em grupo. Sempre houve, contudo, a personagem que era rodeada de amigos e outros personagens masculinos e, normalmente, essa mulher é cheia de estereótipos em si. E essa personagem não é tão difícil de encontrar (temos certeza que você pensou em pelo menos uma): além da Smurfette, que é a única mulher dentre os Smurfs, há a Miss Piggy, única personagem feminina entre os Muppets, e várias outras que afetam, na representatividade, a visão que mulheres e meninas têm de si. Por exemplo, entender que o homem é o padrão, enquanto a mulher é a variação, e que mulheres só existem em função de homens. Sem contar a pressão para ser a garota “diferente” do grupo, que se esforça para agir como forte e sem sentimentos, e é aclamada por seus companheiros por isso.


Manic Pixie Dream Girl

O termo surge a partir de um artigo de 2005 de Nathan Rabin (que você pode ler aqui, em inglês), onde o autor define a personagem Claire (Kirsten Dunst) no longa Tudo Acontece em Elizabethtown como alguém que só existe nas emoções exaltadas de roteiristas e diretores sensíveis para ensinar homens jovens a abraçar os mistérios e as aventuras da vida. Trocando em miúdos, a Manic Pixie Dream Girl é uma personagem que é utilizada como recurso narrativo para que o protagonista - um homem jovem, heterossexual e branco - aprenda uma lição sobre a vida. Ela normalmente é vista como a garota ideal, que se encaixa em padrões de beleza diversos, mas que possui gostos e hábitos estranhos (mas adoráveis, como uma criança). Além de Claire, um outro ótimo exemplo deste estereótipo é Summer (Zooey Deschanel), de 500 Dias com Ela.


Mulheres na Geladeira

Esse estereótipo é tão bizarro quanto parece: em algum momento, o super herói protagonista vai ter sua companheira sequestrada, morta, e/ou colocada em um refrigerador, ou algo que pareça um. Este padrão foi notado pela escritora Gail Simone em 1999, mas ainda permeia diversas narrativas tanto audiovisuais quanto em HQs. A ideia de que mulheres precisam ser feridas de alguma forma (e até perder seus poderes) para motivar seus companheiros masculinos envolve não só personagens secundárias e mal desenvolvidas, mas também protagonistas, mulheres fortes e profundas. Existem pelo menos 90 personagens que se encaixam neste estereótipo, algumas sendo Gwen Stacy (Emma Stone), que morre após uma queda e causa grande dor em seu namorado em O Espetacular Homem Aranha 2, Rachel Dawes (Katie Holmes) que é explodida por Coringa em Batman - O Cavaleiro das Trevas por ser o interesse romântico do herói, e várias esposas, filhas e mães que são descartadas para servir de motivação para personagens masculinos, que tendem a “renascer”, voltando em uma versão melhor do que eram antes.


Gravidez Mística

É muito comum em narrativas de fantasia e ficção científica a presença de mulheres que engravidam de algo maligno e/ou dão a luz a aberrações. Esse estereótipo segrega as mulheres por uma função biológica, transformando a experiência, que deveria ser natural, em algo aterrorizante e extremamente doloroso. Esse padrão é sempre usado para punir a mulher de alguma forma e, como explicado pela crítica Anita Sarkeesian, tem relação ao mito da gestação da Virgem Maria, que dá a luz ao Escolhido. Esse padrão não apenas viola e degrada o corpo feminino no audiovisual, como também ameaça os direitos reprodutivos de mulheres em diversos países. Como exemplos temos Bella Swan (Kristen Stewart), que engravida de um vampiro e morre ao dar a luz durante a Saga Crepúsculo, e Melisandre (Carice van Houten) que dá a vida a um espírito maligno que mata um dos irmãos do rei (e candidato ao trono) em Game of Thrones.


A Sedutora Demoníaca

Uma criatura do mal, geralmente demônio, robô, alienígena, vampira etc que toma posse ou se disfarça de humana sexy. Ela usa sua sexualidade e esperteza sexual para manipular, seduzir, matar e por vezes comer homens desafortunados. Essa representação pode variar, mas quase sempre é a figura da femme fatale, e reforça o mito misógino de que mulheres usam seu poder sexual como forma de manipular, enganar e controlar os homens, antes de tudo. Aqui, o exemplo é Jennifer Check (Megan Fox), que tem seu corpo tomado por um demônio comedor de homens em Garota Infernal, filme que foi divulgado através da hipersexualização de Megan Fox.

E esses são apenas alguns dos estereótipos femininos no audiovisual. Há também os estereótipos de classe e raça, que permeiam narrativas racistas ou embranquecidas. Já parou para pensar quantas personagens femininas não são bem desenvolvidas, e servem apenas para um recurso narrativo em relação ao protagonista (normalmente homem) ou como uma forma de punição por ser mulher? Pois é. Já estamos cansados disso. Precisamos de mulheres envolvidas em todas as etapas da indústria.


Curtiu o conteúdo? A Onze Trinta se orgulha em dizer que possui 50% de mulheres em sua força de trabalho, inclusive em cargos de chefia. Vamos conversar sobre seu próximo projeto.

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